Marta Pinheiro "A pandemia primeiro e a guerra na Ucrânia depois, causaram um reposicionar do foco e as questões da deficiência não têm tido a mesma atenção que vinham registando na legislatura anterior".
- Escrito por Sofia Pires
- Publicado em Portugal
Marta Pinheiro, secretária da direção nacional da ACAPO, dá a cara pelo ativismo das pessoas cegas e com baixa visão através desta associação. A participação nesta instituição nacional, que no próximo ano completa 40 anos de existência, é apenas uma das facetas desta mulher de 42 anos, mãe, esposa, administrativa e terapeuta de Reiki.
01 – Quem é Marta Pinheiro: como se vê, como as pessoas a veem?
Marta Pinheiro (MP) - Marta Pinheiro. Sou uma mulher realizada. Tenho 42 anos uma família e uma vida estável. Ainda tenho muitos projetos para concretizar, mas divido a minha vida em várias vertentes profissionais e pessoais. Sou administrativa, faço parte da direção nacional da ACAPO e sou terapeuta de Reiki. No campo familiar tenho um filho de 13 anos e um companheiro com quem partilho a minha vida há três anos e formamos uma excelente equipa. Tenho travado algumas lutas mais difíceis no campo da saúde, mas no deve e haver o saldo é claramente positivo. As pessoas vêem-me como alguém cheia de força e coragem, o que eu até concordo, tenho garra para dar e vender no geral. Sou aquele tipo de pessoa que está sempre a tentar promover bom ambiente por onde passo. E procuro sempre que possível gerar consenso e união. Nem sempre consigo claro, mas gosto de mobilizar pessoas para as causas onde me envolvo.
02 - Como foram os últimos 10 anos na sua vida?
MP - Na minha vida os últimos 10 anos foram bastante intensos. Iniciei em 2017 até ao presente, funções de dirigente na direção nacional da ACAPO. Um desafio de grande responsabilidade por se tratar da organização que defende e representa os direitos e interesses das pessoas cegas e com baixa visão em Portugal. É um desafio em que a aprendizagem é constante e em que a nossa capacidade de resposta às mais variadas situações é muito frequente e nos dá um know-how muito significativo. Integrei ainda as listas da coligação Juntos por Creixomil, a freguesia onde resido, e passei em 2021 a ser deputada à assembleia desta freguesia.
03 - Quais foram os momentos mais marcantes?
MP - Os momentos mais marcantes nestes dez anos foram estes, e a nível pessoal um acontecimento absolutamente divisor de águas. Tive em 2021 uma perda gestacional às 15 semanas de gravidez. Este acontecimento marca um antes e um depois enquanto pessoa, mãe e mulher. É uma experiência limite onde eu pessoalmente aprendi muito e me fez crescer enquanto ser humano.
04 - Como avalia os últimos 10 anos na vida das pessoas com deficiência?
MP - No campo da deficiência tivemos nestes 10 anos grandes avanços, mas atualmente as coisas estão mais estagnadas, muito graças à conjuntura que vivemos. A pandemia primeiro e a guerra na Ucrânia depois, causaram um reposicionar do foco e as questões da deficiência não têm tido a mesma atenção que vinham registando na legislatura anterior. Contudo, a criação da Prestação Social de Inclusão, a implementação dos Centros de Apoio à Vida Iindependente e, por último, a antecipação da idade de reforma para pessoas com deficiência, são marcos incontestáveis na vida dos cidadãos e são medidas promotoras da autodeterminação e equidade económica e social.
05 - Em que áreas foi mais positiva a evolução?
MP - Estes foram indiscutivelmente as medidas e aspetos mais positivos nesta temática.
06 - O que ficou por fazer?
MP - O cumprimento da legislação na área das acessibilidades é aquilo que para mim mais se destaca. Os anos passam e as cidades continuam sempre com os mesmos problemas ao nível nas barreiras arquitetónicas, e no campo do digital também pouco mudou. Portugal tem uma diretiva comunitária para transpor no que diz respeito a acessibilidade digital. É suposto ser até 2025, aguardamos com expectativa.
07 - A comparação inevitável: como Portugal se posiciona em relação aos restantes países europeus?
MP - Em Portugal face aos outros países europeus existe ainda uma grande lacuna na questão da educação. Nós temos menos meios e demoramos muito mais a dar respostas. O acesso a materiais de apoio é muito difícil, e as próprias condições físicas das escolas não permitem muitas vezes no caso da deficiência visual, a correta formação em áreas como atividades da vida diária, orientação e mobilidade entre outras.
08 - Como acha que vão ser os próximos 10 anos para as pessoas com deficiência?
MP - Face à conjuntura atual, prevejo que os próximos 10 anos sejam de alguma estagnação.
Acredito que medidas mais impactantes só comecem a surgir quando esta nova crise europeia e mundial terminar. Só depois da economia começar a crescer é que, tendencialmente, os governos e a própria sociedade civil olharão com mais atenção para estas questões. Para já será importante não perdermos aquilo que fomos conquistando.
09 - Como deseja que sejam os próximos 10 anos na sua vida?
MP - Na minha vida espero que os próximos 10 anos sejam de estabilidade e crescimento pessoal. Tenho um objetivo muito claro, conseguir ser mãe novamente. Quero ver o meu filho realizado e feliz e continuar a aprender e a trabalhar na minha formação.
10 - Que mensagem deixa à Plural&Singular pelos 10 anos de existência?
MP - Desejo que para a Plural&Singular os próximos 10 anos sejam de consolidação e expansão. É uma publicação com características únicas no panorama nacional e que em seu torno gera sinergias muito interessantes e que começam a ter muito eco na sociedade civil. Este caminho merece prosseguir e evoluir.
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