Paulo Lemos: “Nos próximos 10 anos gostava que as pessoas com deficiência fizessem tudo aquilo que não fizeram até hoje”
- Escrito por Sofia Pires
- Publicado em Portugal
Os títulos enquanto atleta de Judo já se começam a acumular, mas nem a soma de tantas vitórias trava o desejo de conquistar mais triunfos. De olhos postos nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, Paulo Lemos divide o tempo entre a prática desportiva, o trabalho na Câmara Municipal de Guimarães, o apoio acérrimo ao Vitória e ao Pevidém Sport Clube e ainda às aulas de canto e gosto por Karaoke.
01 – Quem é Paulo Lemos: como se vê, como as pessoas o veem?
Paulo Lemos (PL) - Eu sou o Paulo Jorge Ribeiro Lemos e tenho 31 anos e sou portador de trissomia 21. Eu trabalho na Câmara Municipal de Guimarães e gosto de futebol e nos tempos livres sou foto repórter.
02 - Como foram os últimos 10 anos na sua vida? (Se for possível descrever os momentos principais da sua vida nos termos acima referidos)
PL - Nos últimos 10 anos da minha vida foi quando fiz 21 anos. E isso foi marcante porque tinha a minha mãe que nunca vou esquecer. Eu, nos primeiros quatro anos organizava o meu aniversário e a minha família estava comigo para me cantar os parabéns e eu fica todo contente, mas depois quando fiz 28 anos eu perdi o meu amor de sempre a minha mãe que gosto muito dela e nunca me vou esquecer foi assim o percurso até hoje. Desde dos 21 até hoje tenho ganho medalhas e muitos pódios e represento a nossa seleção fora do país. Em termos desportivos tenho o objetivo de alcançar os jogos olímpicos em França. Mas os meus objetivos são esses. E faço muitos treinos para isso acontecer. Eu trabalhei sete anos na escola EB 2,3 de Pevidém e tinha 24 anos e saí em 2018 depois disso comecei a trabalhar na Câmara de Guimarães e já fez cinco anos. Eu em 2015 saí da escola estive dois anos em casa, mas depois no ano seguinte comecei a trabalhar na câmara como estagiário e passado dois anos voltei para casa mais um ano devido à pandemia, depois voltei ao trabalho no departamento de desporto até hoje.
03 - Quais foram os momentos mais marcantes?
PL - A coisa que me marcou muito foi perder as pessoas que amo a minha mãe a minha tia. E também estou feliz pela vitória na Madeira que eu nunca tinha ido lá.
04 - Como avalia os últimos 10 anos na vida das pessoas com deficiência?
PL - Quando penso nas pessoas com deficiência acho que deviam dar valor às capacidades que têm e serem incluídos porque todos somos iguais.
05 - Em que áreas foi mais positiva a evolução?
PL - Pelo que eu acho as pessoas com deficiência devem ser felizes e deviam concretizar os seus objetivos, seja a nível pessoal ou como atleta desportivo.
06 - O que ficou por fazer?
PL - No meu entender sobre as escolas é o seguinte: melhoramento e obras em sítios degradados. Sobre as associações e políticos digo que deviam dar valor a estas pessoas, ajudá-las no que for possível e também deviam ser homenageadas a nível desportivo.
07 - A comparação inevitável: como Portugal se posiciona em relação aos restantes países europeus?
PL - Nos países que já visitei, adorei estar lá e gostava de voltar novamente.
08 - Como acha que vão ser os próximos 10 anos para as pessoas com deficiência?
PL - Nos próximos 10 anos gostava que as pessoas com deficiência fizessem tudo aquilo que não fizeram até hoje. Eu sempre enfrentei os meus obstáculos e as pessoas com deficiência deviam fazer o mesmo que eu. Nós somos todos diferentes á nossa maneira, mas a mentalidade das pessoas cada um sabe de si e não tenho mais nada acrescentar
09 - Como deseja que sejam os próximos 10 anos na sua vida?
PL - Nos próximos 10 anos da minha vida será conquistar títulos e superar as minhas expectativas e um dia ser campeão Olímpico. Em termos pessoais é ter uma vida saudável e conseguir baixar o peso e conseguir um dia ser cantor profissional e mais nada a acrescentar.
10 - Que mensagem deixa à Plural&Singular pelos 10 anos de existência?
PL - Desejo muita felicidade e daqui a 10 anos possa voltar a repetir este dia muito especial.
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