Esclerose Múltipla elemento agregador de Amor
Pois é, foi pela mão da esclerose múltipla que nos conhecemos em abril de 2014 na SPEM [Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla], numa assembleia geral. Em nome da patologia, elemento comum a nós os dois, começámos a frequentar as atividades lúdicas promovidas pelo Energias Múltiplas.
Eu comecei a reparar, numa miúda que tinha um toque diferente, o seu sorriso e a sua energia, apesar de ser visível a questão motora, provocada pela doença. Desde uma tertúlia, em que ela fazia tudo de forma doce, meiga e cheia de energia, com a sua canadiana, fiquei com o bichinho de a querer conhecer de uma forma mais profunda, sem pressa.
Não sabia bem como o ia fazer e não queria convidá-la para um café a dois, isso é o trivial que todos fazem. Começámos por falar horas, via facebook, para nos irmos conhecendo, em que se fala de tudo, menos de questões de beleza, ou seja, engate.
Decorreram alguns meses, até que eu recebi convites para uma Festa Concerto dos Anos 80, em Cascais, minha terra. Acordei e olhei para aqueles convites, decidi falar com a miúda que já me despertava, tanta curiosidade, a ver se ela queria vir assistir aos dois dias de festa. Ela perguntou qual era o preço dos bilhetes, eu disse que a estava a convidar e que iam mais pessoas nossas amigas da SPEM.
Nesse mesmo feriado e fim de semana, não tinha os filhos com ela, aceitou o convite. Eu fiquei feliz porque a oportunidade estava a surgir.
Passamos dois dias fantásticos de festa, em que eu desaparecia momentaneamente, com medo que as coisas acontecessem de forma rápida. No último dia foi complicado, havia alguma nostalgia, porque tínhamos chegado aparentemente ao fim. Pedi-lhe que me enviasse uma sms para eu saber que tinha chegado bem a casa. Assim aconteceu.
Aí, começamos a falar por facebook Messenger, até que eu enviei uma sms a perguntar se podia ligar-lhe, a resposta foi “Claro que sim”. Eu nem queria acreditar.
Conversa puxa conversa, típica de quem está apaixonado, até que a miúda diz “Então estamos numa relação?” e eu respondi “Claro que sim”. Terminámos a nossa conversa e combinámos em que ela me ligava quando acordasse. Ligou-me e combinámos encontrar no Nossolo Itália em Belém.
Cheguei ao sítio e sentei-me calma e tranquilamente, pedi uma água com gás e um café, até que a miúda aparece. Fomos ao encontro um do outro e demos o primeiro beijo, sem uma única palavra e com um abraço, como se a nossa relação já tivesse meses de existência. Ao fim de dois dias, disse-lhe que queria usar a aliança de comprometido, para mim não fazia sentido outra atitude, o que a deixou surpreendida, por hoje ninguém querer na generalidade este tipo de coisas.
Assim começou a nossa história. Já lá vão dois anos.
Como sempre quisemos viver e fazer as coisas bem-feitas na vida, ao fim de quinze dias os nossos filhos conheceram-se. A partir dai começámos a viver juntos.
A 15 de agosto de 2014, em Fátima numa das capelinhas da nova basílica, com duas alianças, e com o juramento de fidelidade, entregámos à Nossa Senhora de Fátima, a nossa relação e foi o casamento à nossa maneira.
Muito episódios vivemos nessa altura, uns bons outros menos bons, mas nunca nos deitámos com nada por resolver. Nessa altura, pensámos os dois em casar pelo civil dali a um ano, 15 de agosto de 2015, o que veio a acontecer e que assustou as nossas famílias. Atualmente, compreendem e dão graças a Deus pelo nosso discernimento, em ter antevisto com um ano de antecedência o que faz todo o sentido.
Consegui realizar um dos meus maiores sonhos, uma mulher completa, com esclerose múltipla e com a visão da vida idêntica à minha. Quando em 2013 os meus pais achavam uma loucura, hoje compreendem o que eu dizia, faz toda a diferença, falamos a mesma língua e vivemos a mesma realidade, o que simplifica muito a vida.
Agora é vivermos um para o outro, para a família, para os amigos, para a causa de divulgar a esclerose múltipla perante a sociedade, ajudar quem precisa.
E assim, o que podia afastar, marginalizar inclusive, tornou um sonho em realidade: um projeto de vida e amor, com a esclerose múltipla.
António Correia
Todos Esclerose Múltipla
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